Depreciação do real no 1º semestre volta a aproximar o indicador do azul, aponta Funcex
Por Marcelo Osakabe — De São Paulo
A forte depreciação do real na reta final do primeiro semestre mudou o cenário da rentabilidade para vários ramos exportadores brasileiros para o restante 2024. De janeiro até maio, a forte queda dos preços de importantes produtos da pauta exportadora imprimiu grande perda de atratividade da atividade exportadora, superando com alguma folga a queda dos custos de produção e a desvalorização do câmbio no mesmo período.
De acordo com acompanhamento feito pela Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), o índice de rentabilidade das exportações tem queda de 0,9% no acumulado de janeiro a junho, na comparação com o mesmo período de 2023. Até maio, esse recuo era maior, de 2,3%.
O câmbio é o principal fator que tem feito a balança da rentabilidade voltar a se aproximar do azul. No primeiro semestre, a moeda americana acumulou valorização de 15,2% – apenas em junho, alta foi de 6,5%.
A depreciação cambial ajuda a compensar a queda dos preços de embarque, que foi de 3,7% no primeiro semestre. Até então, o comportamento dos preços superava a redução dos custos dos produtos importados no período, de 2,6%, que foi disseminado entre insumos nacionais (2,6%) e importados (11,2%). Em um sinal de que o cenário mudou rapidamente, a rentabilidade das exportações subiu 4,4% de maio a junho, sendo que o câmbio teve influência preponderante, com alta de 5%. Naquele mês, o índice de preços das exportações se manteve estável, e o índice de custo subiu 0,6%.
“O cenário positivo de junho deve se estender e contaminar a análise para o acumulado do ano. Acredito que nos dados de julho já veremos o índice passar ao positivo” , diz Daiane Santos, economista da Funcex e professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Ela avalia que os custos do exportador já tiveram forte reajuste no primeiro semestre e não devem se movimentar tanto no restante do ano. Em especial, a queda de 11,2% dos preços de insumos importados dá certa gordura para amenizar os efeitos prejudiciais da depreciação cambial sobre a rentabilidade, diz. “O único custo que se elevou no período foi o de salários e serviços (0,5%), então o panorama parece tranquilo. Acredito que somente um novo choque de preços pode manter no negativo a margem do exportador em 2024, já que não esperamos que o real vá se valorizar novamente a ponto de apagar o movimento recente” ,complementa.
É ruim para a economia que setores importantes continuem sem rentabilidade” — Welber Barral
Entre os setores com participação mais importante na pauta brasileira, a agricultura e pecuária, que responde por aproximadamente um quarto (23,9% em 2023) das exportações, acumula queda de 14,2% na rentabilidade no primeiro semestre, sempre na comparação com igual período de 2023. O preço das exportações desses produtos foi o fator que mais pesou nesse sentido, com tombo de 15,5%. “É ruim para a economia brasileira que alguns setores importantes continuem sem rentabilidade mesmo com a desvalorização cambial. Provavelmente, porque houve queda da demanda de mercados importantes”, diz Welber Barral, sócio da consultoria BMK e ex-secretário de Comércio Exterior.
“A verdade é que o crescimento menor que o esperado da China está afetando um pouco aquilo que foi uma bonança das commodities brasileiras em anos recentes.”
Ele nota que as projeções de crescimento global do FMI e do Banco Mundial apontam uma média de crescimento ao redor de 3% no futuro próximo, abaixo da observada em anos anteriores.
“Isso significa que preços, especialmente de commodities, não devem ajudar em uma perspectiva de médio prazo.”
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), a balança comercial registrou superávit de 6,1% entre janeiro e julho, na comparação com igual período de 2023. A Secex projeta superávit de US$ 79,2 bilhões neste ano, contra US$ 98,8 bilhões de 2023. Para Barral, as diferenças de rentabilidade entre os diversos setores ressaltam os problemas de se ter uma pauta concentrada em commodities.
“Embora a maior parte dos manufaturados mostre comportamento positivo quando olhamos os preços de embarque, o total exportado não cresce tanto. Este é o risco de vender produtos em que o país não controla o preço”, diz.
“A não ser que a desvalorização do câmbio se intensifique no restante do ano, a tendência é não ter aumento de rentabilidade nem ganho extra para a balança comercial – cujo resultado não será ruim, mas menor que o de 2023.”
Entre indústrias de transformação, que sofreu menos com o tombo dos preços de embarque, apenas seis dos 23 ramos apresentam recuo da rentabilidade no período – produtos têxteis (1,4%), de madeira (1,1%), derivados de petróleo, biocombustíveis e coque (1,1%) químicos (4,4%), máquinas e equipamentos (1,3%) e móveis (0,2%).
Por outro lado, equipamentos de informática (16,7%), máquinas, aparelhos e material elétrico (15,9%) e produtos de fumo (22,0%) apresentam o melhor desempenho da rentabilidade no período.